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Aula 08 - Educação Patrimonial e Identidades

Olá pessoal, tudo bem?
Vamos dar continuidade aos nossos estudos em torno do conceito de educação patrimonial.

Vimos, na aula anterior, que temos pelo menos duas possibilidades para pensarmos a educação patrimonial: uma tradicional e conservadora e outra progressista.

Vimos também que a educação patrimonial tradicional é voltado para a unificação, enquanto que a progressista parte do princípio da diversidade, sendo esta a perspectiva por nós adotada.

Entendemos que a educação patrimonial deva partir dos interesses da população, e não de apenas uma parcela dela, sendo assim necessário considerar a diversidade de possibilidades, interesses, memórias e identidades.

Acreditamos que, a melhor forma de educarmos para a diversidade é educarmos a partir da comunidade, do local. Em uma sociedade como a atual, pautada na globalização e na integração, é importante valorizar o que está próximo, para que assim possamos também valorizar o que é universal.

Como temos a comunidade como ponto de partida, nos fazemos alguns questionamentos:
  • como a população, vinculada a uma certa comunidade, relaciona-se com seu patrimônio cultural, levando em consideração o fato de que esta comunidade não é única nem homogênea?
  • como pensar o patrimônio a partir da perspectiva que, também as comunidades, não estão livres das tensões e conflitos inerentes a própria concepção de patrimônio?
  • como manter vivo uso e costumes, a partir de suas transformações  e contradições?

Não são respostas fáceis de serem dadas, mas são preocupações que devem estar presentes quando atuamos no âmbito da educação patrimonial.

Podemos, de início, identificar alguns desafios enfrentados pelas comunidades, no que se refere ao estudo do patrimônio cultural, ou seja como se dá:
  • o controle das formas costumeiras de transmissão/aquisição de conhecimento;
  • o controle das mudanças provocadas pelas políticas que afetam as diversas esferas da vida social e que tem conseqüências sobre o patrimônio;
  • a participação ativa nos inventários, formação de acervos e registros e;
  • a conservação das condições materiais e ambientais de reprodução e desenvolvimento de seu patrimônio, frente as demandas externas.

Um dos desafios é possibilitar que as comunidades mantenham vivo usos e costumes, assim como suas transformações e contradições sociais. Daí a necessidade de, em conjunto com ela, buscar responder mais algumas perguntas, tais como:

  • O que é realmente fundamental, que mereça ser preservado?
  • Como a comunidade se relaciona com um bem preservado?

Um exemplo de como estas questões são respondidas e o perigo de apropriação de um grupo social em relação a um espaço de memória é o Museu de Arte de Londrina - MAL.

Digite “Museu de Arte de Londrina” no Google Maps, e faça uma visita a redondeza.

Este museu pode ser considerado um lugar importante de socialização, que envolveu toda a comunidade londrinense. Antes de tornar-se museu, foi uma rodoviária, projetada por Vila Nova Artigas (http://www.g-arquitetura.com.br/vilanova_artigas.htm) e tida como marco da modernidade londrinense, no auge da produção cafeeira.

Antes de continuar, saiba um pouco mais do Museu de Arte de Londrina - MAL

O museu, juntamente com a praça que fica aos fundos do prédio, a "Praça Rocha Pombo", foram tombados em 1974 pela Coordenadoria do Patrimônio da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. Ao ser tombado, a sociabilidade que envolvia o espaço não foi preservada, pois ignorada e esquecida. Manteve-se a lembrança do progresso, da modernidade representada por Artigas, da riqueza, do café, esquecendo-se das pessoas, das vivências. Esqueceu-se inclusive do motivo da transferência da rodoviária, ou seja, dos elementos de transformação que marcam a preservação e a tradição deste espaço. Manteve-se o monumento, mas apagou-se as memórias e as vivências, sob risco de tornar-se um prédio fantasma.

Vale ressaltar o esforço da atual direção do museu em torná-lo mais próximo ao público, desenvolvendo atividades como a Festa Nordestina. Porém a identidade com os usuários do prédio, na época da rodoviária, está se perdendo.

Outro Exemplo é o Museu Paulista (Museu do Ipiranga).

Veja uma matéria sobre o Museu do Ipiranga e arredores: http://viajeaqui.abril.com.br/materias/passeio-pelo-ipiranga-museu-paulista-e-arredores
Acesse o site do Museu Paulista: http://www.mp.usp.br/
Digite “Museu Paulista” no Google Maps.

A constituição do Museu do Ipiranga deve ser entendida a partir das comemorações do centenário da independência. Visando consolidar seu papel enquanto elite nacional, a elite paulistana aproveitou-se dos benefícios simbólicos do centenário da independência e vinculou-o ao projeto hegemônico da República Velha Paulista, aproximando-se da imagem da independência e de D. Pedro I.

Neste caso, a independência é retratada não como uma apologia a monarquia, mas do nascimento da nação e do Estado Nacional, ocorrida no mais republicano do Estado Brasileiro: São Paulo. Neste sentido, o museu apresenta não a independência, mas seu simulacro: o imaginário da elite paulista do início do século XX. Este é também o caso do quadro Independência ou Morte, de 1888, que completa o imaginário da independência, no limiar da república.


Tenha mais informações, no link: http://www.museudacidade.sp.gov.br/grito-quadro.php

Por fim, podemos citar ainda o Museu da Inconfidência. Projeto de porte grandioso, visava trazer de volta para o Brasil os restos mortais dos martirizes da inconfidência no degredo da África:
      
“As urnas fúnebres, ao chegarem, depois de uma passagem pela Capital da República, (...) Em 1938, esvaziada a antiga Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica, que àquela altura se achava convertida em penitenciária, o governo federal a reivindicou para nela localizar o Panteão dos Inconfidentes. O interesse de Getúlio Vergas no assunto era de tal ordem que uma composição da Estrada de Ferro Centra do Brasil esteve meses a fio, por conta do transporte de ida e volta das lajes de itacolomito - um arenito originário da região - que iam para ser trabalhadas e gravadas no Rio de Janeiro (MOURÃO, Rui, 1994)."

Os inconfidentes receberam assim seu Panteão completo com um museu totalmente reformado que foi solenemente inaugurado em 1942 e aberto ao público em geral somente em 11 de agosto de 1944.

Acesse o site do Museu da Inconfidência: www.museudainconfidencia.gov.br/
Digite: Museu da Inconfidência, no Google Maps.

Estes exemplos demonstram como espaços tidos como coletivos e que detem uma diversidade de possibilidades de interpretações e vivências, são apropriados por grupos que lhe dão um sentido único, geralmente excludente.

Daí a importância de formar pessoas capazes de (re) conhecer sua própria história cultural, sendo este um dos principais papéis da educação patrimonial. Com isso, o sujeito deixa de ser espectador, valorizando a busca de novos saberes e conhecimentos, provocando conflitos de versões.

Para tanto, é fundamental que iniciemos a reflexão do patrimônio a partir do reconhecimento de seu contexto imediato, indo além do patrimônio oficial como identidade nacional. Faz-se importante partirmos da localidade, entendida como espaço do plural, do móvel. O conceito de patrimônio deve ser capaz de articular tensões entre o universal e o singular, o local.

NESTE SENTIDO, POSSO E DEVO RETOMAR OS ESPAÇOS ARQUITETÔNICOS, SOCIAIS E DE MEMÓRIAS APONTADOS, DESDE QUE SE FAÇA RELAÇÕES COM OUTROS ELEMENTOS E QUE SE CHAME ATENÇÃO PARA A TENSÃO DAS VIVÊNCIAS E DAS SELEÇÕES.

As tensões e seleções, assim como o consenso, são elementos inerentes ao patrimônio, que não pode ser ignorado por aqueles que trabalham com educação patrimonial. Devemos ter claro que preservação e representação estão vinculados a interesses de grupos, sendo assim necessário disputar o patrimônio, o que pressupõe um duplo caminho:

  • re-significar o patrimônio oficial;
  • eleger novos patrimônios, valorizando e incentivando novas alternativas.

Para que haja preservação, faz necessário a interação, que leva a valorização de sua herança cultural e a produção de novos valores e conhecimentos. Faz-se necessário entender também que há uma diversidade de modos de apropriação do espaço, da comunidade e da cidade, gerando uma Cidade como guerra de relatos e de interpretações.

Até a próxima aula.

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